Toda revolução começa silenciosa e é assim também no pagode baiano.
Se inicia pelos cantos da cidade e sedes dos grupos que a forjam. Só depois de muitas reuniões, decisões e crescimento na escala local, através do boca a boca, ela toma corpo e forma de revolução.
É um movimento que movimenta estruturas. Mas, todos esquecem que antes de movimentar cidades, estados, políticas e governos, uma revolução muda primeiro o coração de quem está na luta. E no nosso caso, nem é movimento, é swingue.
Esse texto editorial é para dizer o seguinte:
Chegou a hora de chamar a Plataforma Oficial das Mulheres do Pagode Baiano de revolução.
Estamos construindo a nova Década do Pagodão, com outras várias mãos, começamos a fomentar uma rede que será responsável por mudar a cena do pagode e a presença das mulheres na indústria musical baiana em 10 anos. Ambicioso? Acreditamos que não!
Cada passo, cada projeto, cada nova pagodeira, cada novo representante desta causa, são as mudanças acontecendo. Os olhos desatentos podem dizer que se trata apenas de mais um movimento sem força suficiente.
Mas, quem levanta bandeiras não se curva perante opiniões alheias e sociedades retrógradas.
Foram cerca de 20 anos de apagamento da história e do trabalho das mulheres do pagode baiano. Afinal, elas sempre existiram na cena, como backdancers, backvocals, dançarinas, mas tomar os palcos e ser protagonista, só pros homens.
Beatriz Almeida.
Mulheres como Aila Menezes, Rai Ferreira e Jady Girl, viram seus contemporâneos crescerem em largas proporções. Enquanto o mesmo reconhecimento, ainda hoje, não chegou para elas. Isso precisava mudar. Precisa mudar. E acreditamos tanto ser possível a ponto de estarmos aqui, completando quase 3 anos de Pagode Por Elas.
E está mudando. Sabe aquela roda de samba que começa com um pandeiro, e vai conquistando público, palmas, vem a cuíca, o tamborim e as lágrimas secam, porque o choro é só do cavaquinho?
É nesse ritmo que a revolução proposta pela Pagode Por Elas é abraçada pelas mulheres. Então, as cantoras, dançarinas, produtoras, empresárias e todo ecossistema feminino do pagodão que precisa ser fortalecido é abraçado por nós.
em pouco tempo, já fizemos muito.
Em 2021 temos oficialmente dois anos na pista, mas já fizemos história. Lançamos “Pagodão: A Cena Por Elas”, o primeiro audiovisual sobre as mulheres do pagode baiano.
Os bastidores dessa produção envolveram medos, inseguranças, lágrimas, mas também muitos sorrisos, esperança, fé das cantoras em seus trabalhos e na nossa realização, fé de gente que colou voluntariamente por acreditar no propósito.
Fé. Uma crença potente na possibilidade de ir além, mais longe e sempre em frente.
E se vamos além, vamos por todos os lados, fizemos o primeiro produto científico sobre as mulheres em local de protagonismo no pagodão, o artigo “As transformações provocadas pela presença de mulheres vocalistas na cena musical do pagode baiano”.
Jornalistas que somos, fizemos o podcast “Mulher na Cena” e a primeira reportagem especial “As Donas da Zorra Toda” contando a história do pagodão, a partir da perspectiva feminina.
Nessa construção fizemos tour pelos paredões, pesquisa de consumo do gênero musical protagonizado por mulheres e entrevistamos TODAS as mulheres cantoras que conseguimos mapear, e ainda dançarinas, backdancers e backvocals. Sim, ninguém acreditava que se tratava de um Trabalho de Conclusão de Curso e não de diversão. (risos)
E se essa informação é nova pra você. Foi exatamente assim que iniciamos, em meados de abril de 2019, na primeira etapa do nosso TCC de jornalismo. Em dezembro, na banca final, os professores tinham uma pergunta:
“Como a grande mídia nunca pensou nessa pauta antes?”
Se tentou responder, nós também. É difícil saber ao certo, mas há um tempo as redações, cada vez mais enxutas, olham menos para as ruas, vivem menos as periferias e se ocupam de falar das favelas como lugar distante, de alta periculosidade e risco, nas quais só vivem pessoas de má índole. Assim, é bem complicado escrever sob novas lentes.
Inovar exige sair da zona de conforto.
Ideias criativas surgem apenas para quem olha e observa, quem ouve e escuta, quem mora e vive, quem dança e sente.
Em 2019, eram apenas 9 mulheres cantoras mapeadas, hoje já somam quase 30. Estamos fomentando a representatividade que transforma meninas sonhadoras em mulheres que realizam.
Somos uma empresa da indústria criativa, com uma missão enorme e um propósito potente: Construir a nova década do Pagodão, dessa vez feita por nós, com a nossa cara e do nosso jeito. Se revolucionar também é a sua cara, cola com a gente, cola com as pagodeiras.
Das pagodeiras co fundadoras: Joyce Melo e Beatriz Almeida